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MATRAGA REENCONTRA DIÓ

Nosso velho Matraga segue sua jornada escrituária, seu destino precário, sempre em busca do coração de Dió, onde diz estar sua felicidade, mas pode o outro ser a felicidade de alguém?!

 

Trepamos como nunca. Era por volta das dezessete horas quando percorria a pé a Otávio Pinheiro. Ia pela contramão, cabisbaixo, o possível perdão de Dió pesava na cacunda, tão acostumada com baldes de concreto.

Desejava ser escorraçado, xingado, que as unhas cumpridas de Dió penetrassem a carne fria do meu peito nu. Era o que eu merecia. Era só o que eu merecia. Chego a conclusão de que não posso viver da escrita. Me educo, tomo modos...não, não nasci para isso. Há gente que nasceu para servir, para empurrar carrinho e num tem como quebrar a ordem das coisas. Passo horas na frente da máquina, que Ketellyn teimava em me ensinar: faz assim ô, Papai. Ah! Vá tudo para os quintos-dos-infernos, sou jacu, sou jacu mesmo, minha fia! Chorava. Um homem da minha idade, naquela situação, que nunca derramou lágrimas sem ser por fome, quando dói o estômago e a alma. O que virou, Matraga, essa cara magra, ossuda, sem face nem jeito de gente.

Com o que sobrou do pouco que ganho de uns escritos, da coluna que teimo em manter - mas que virou quase ou totalmente um canto de lamentações. Paro em frente ao Santa Rosa, vejo um velho magro como eu cortando a carne e dá duas passadas em uma lima comprida. Como no início de namoro, levo um agrado, um carninha para mastigar, uma cervejinha gelada...não tem mais refri para os meninos, tão tudo crescido as peste, com saúde, Graças a Deus!


Sigo meu caminho, agora mais contente, consolado pela noite que escorresse, pulando de um lado para o outro o canteiro central, como uma criança que volta da escola, como um jovem rapaz apaixonado que vai ver a namorada, que o espera na porta, em um toco improvisado de banco, debaixo de uma árvore de calçada.


Encontro Dió com a barriga encostada no tanque, com as mesmas colchas de outros tempos. Não mudou nada a infeliz. Já eu estava velho, acabado. Tempos bons aqueles, que a pegava na porta de casa. Íamos à missa, depois comeríamos todos os pecados dentro daquele Chevette escorraçado, que anda por pura força de vontade, se arrastava quase.


A timidez era fajuta, metia a mãe entre as colchas macias. Uma pele de veludo. A barra do vestido já se assanhava. Dió gruinha baixinho. Logo a beijava calorosamente, a boca fria de medo, espanto e desejo. O pescoço: não deixa marca Traguinha, pai me mata, dizia a nega, mas com desejo de que fizesse o contrário. Eu ia devagar, carinhoso, controlava o desejo. Puxava a alça do vestido, sutiã, tudo se perdia no carro apertado, estacionado a uns metros de casa. E se alguém passasse ali aquela hora? Mirava os mamilos rosados de Dió, os seios que já tomavam volume. Mordia como se fossem pêssegos maduros, nem nunca comi pêssego, mas era como se fosse.


Tudo aquilo se passava em minha cabeça, comigo estacado no portão. "Não vai entrar não, homi!?", grita Dió já se ajeitando, com modos que me esperava ansiosa. As cria não tavam em casa. Dió me tratava de forma amável, me alisava a roupa, ajeitava a gola da camisa. Como parecia jovem, como estava cheia de vida.

Nem carne, nem cerveja, já estávamos no quarto. Dió apressava em se despedir, não tinha mais aquelas firulas da juventude. Eu a olhava, depois mirava para meu estado de decadência. Já não sirvo para isso Dió, arrume um mais jovem, alguém que te satisfaça, que mate seus desejos de mulher de meia idade. Ela choramingava, arrebentava os botões da minha camisa, paga à prestações no Lojão do Porto, já calculava a costureira para remendar aquilo. Eu aceitava passivamente. Tentava me excitar, beijava-me inteiro. E eu, eu fiz o que tinha que fazer, coloquei em prática os ensinamentos da juventude. A chupei como um caroço de manga maduro. Dió soltava gemidos trêmulos, enlouquecida. Mais aqui, mas para ali, agora rápido, não, não, devagar. Eu me contorcia, dava o meu máximo, como um adolescente no apogeu da puberdade.

Pensava em como não havia sido grande coisa na juventude. Na vida tive Dió e outras poucas aventuras. Não me contentava comigo. Sabia que a buceta de uma mulher tem oito centímetros de profundidade?! Sim, sabia, tamanho de pau nunca foi problema para satisfazer muié. Nunca vá direto ao ponto. Que dá tesão é amor. E há uma conta que não bate, de dez mulheres, três apenas já gozaram na vida. Três. Agora todo homi que encontra em esquina se diz um fudedor de primeira e conta vantagem. Meus Deus, por onde vão meus pensamentos.

 

Notas.

Nota¹: texto escrito em brasilandês (sem tradução).


Nota²: aos que questionam o espaço dado a Matraga, por motivo de ser um semianalfabeto. Vocês estão certos, mas não ligamos para essas opiniões contra o nosso colunista.

Nota³: Matraga é um personagem de ficção, existente apenas nessa coluna.

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