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A GAROTA DO SUPERMERCADO

Atualizado: 17 de jan. de 2022

Conto por, Gustavo Rubim.


 

TINHA culpa por odiar Brenda, não sabia ao certo a origem daquele sentimento que crescia em meu imaginário, mas de sentidos e efeitos reais. Bastava observar os trejeitos de Brenda para julgar cada um deles condenáveis e irritantes. Não a achava vulgar, porque rejeitava qualquer forma de puritanismo, ainda mais quando impostos ao comportamento feminino. Esse ponto, talvez, seja a única parte "buena" que encontrava naquela garota, a sentia livre dentro de seu uniforme pê, que deixa livre uma fresta entre o umbigo e o jeans-escuro. Sentia mais raiva ainda, desta vez de mim mesmo, porque me masturbava pensando nela. Naquelas tardes vazias, depois do trabalho, lá pelas 15h45, não encontrava nada melhor para fazer. A masturbação sempre me perturbou. No início pensava que meus peitos iam crescer e tomarem a forma do de uma garota que aponta a puberdade. Depois que meu caminho era o inferno. Por último, a única sensação que restara era a de estar sujo, como se acabasse de cometer um crime e esperava passivamente o castigo de Deus. No outro dia, no trabalho, quando despencava um dos produtos de conserva da prateleira, que repunha cuidadosamente, enfim estava em paz, recebera o castigo e agora estava livre para novos pecados, para mais uma tarde de orgias mentais com Brenda.


A garota chegara fazia três meses no supermercado, era da Padaria, o setor mais nobre do supermercado, para onde iam as garotas mais bonitas. Além disso, o serviço era mais leve e intenso apenas na parte da manhã, quando o cidadão vinha buscar o pão e reclama que os biscoitos estão velhos, velhos como eles talvez. Brenda já estava adaptada, geralmente essas garotas não passam desses três meses, o tempo de experiência, se é que necessita de experiência para por mercadoria em prateleiras e encher sacola de pão, enfim, Brenda se adaptara porque tampouco sentia o peso do trabalho, sua cara era apenas decorativa na Padaria, já que a dupla Mongoloide, Davi e Gabriel, faziam todo o trabalho por ela, se pudessem até colocavam os pãezinhos quentes na sacola. Se revezavam em quem levaria os "frios" até a Padaria por ela, na verdade, disputavam quem seria o da vez. Escravos de buceta seria um apelido melhor, mas julgava-o muito vulgar para minha ética puritana.


Brenda não suportava minha rejeição, ou não suportava que eu não andasse atrás dela como um cachorrinho. Sempre vinha até meu corredor pedir pequenos favores. Nunca os neguei porque tinha tesão por ela, confesso, mas reprimia-o, não aceitava me igualar aos Mongoloides. Mas aquele corpo esguio me encantava, era magra e sexi, um cabelão até a bunda, meio cacheado nas pontas, os olhos negros como duas xícaras de café-forte. Um dia na câmara fria, em que ajudava Luiz a armazenar a carne, o desgraçado ninguém estava disposto a ajudar, era um filha-da-puta, metido a gozador, mas ainda assim o ajudava, o serviço não era moleza não. Bem, estava eu já com o nojo do sangue da carne e quase congelando, já não sentia as pontas dos dedos, quando chegou Brenda, com aquela vozinha enjoada,

_ Oi, Manu, - detestava aquela intimidade falsa que ela provocava - posso tirar umas coisas aí?

_ Claro, - respondi - [os babões ainda devem estar para o almoço], pensei.

_ É que já falta mussarela lá na Padaria, estão pedindo para cortar as fatias cada vez mais grossas, Ufa!

_ [É verdade, já davam quase três centímetros] Imagino, Dona Aurora comentou semana passada no meu corredor, 'garotinhas espertas aquelas da padaria, não sabem a diferença de fatia para pedaço...'.

_ O que você falou?

_ Ora! Disse que ela estava certa.

_ Traidor - não tinha intimidade suficiente para me dizer um palavrão.

A observava retirar as peças da câmara fria e por lentamente na prancha. Evitava olhar para os seios dela, eram pequenos e sumiam naquele uniforme horroroso que nos obrigavam a usar, mas imaginava os mamilos de tom alaranjado, com os das mulheres nuas em em películas antigas; a touquinha não a deixava feia, até gosta de observar o redemoinho do cabelo que se formavam atrás da orelha, como uma grade de casa antiga.

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A COISA COMEÇOU A MUDAR NAQUELE SÁBADO. Luiz insistiu para trocar de horário comigo, detestava aquelas trocas de horário, mas pensei que ia trabalhar dois sábados até meio-dia, e naquele fim de semana, como em todos, não tinha nada para fazer. E quando um companheiro pede para trocar é porque é coisa importante, Luiz ia tá sozinho em casa aquele sábado, os pais iam para roça, Milena (a irmã mais nova) também ia, era a oportunidade certa. Mandar um Zap para Rafa, uma menina de quem ele mentia que comia, e vrauuu… porra nenhuma, mas dessa vez parecia ser verdade, dava detalhes, ela tinha confirmando de verem um filme, qualquer besteira dessas da Netflix, ‘Metflix’, dizia o canalha, com uma cara de cão sardento, ‘antes voltou levar ela lá no Mineirinho, para tomar um açaí´. Como pode uma garota dar para um cara desse, puta-que-pariu, pensava.


Bati ponto meio-dia, sábado, sol estralando, e era turno de Brenda aquele sábado, e sábado na Padaria é mais parado que Feira depois das 11h, via a cara dela refletida no vidro balcão, com o queixo apoiado à palma da mão, fez sinal com a outra mão, rendi com um movimento da face. Joel estava no açougue, açougue é o ninho dos escrotos, homens casados, que passaram dos 40, viciados em pornagrafia. Joel tinha estima por mim, o ensinei a usar a guia anônima e que o Pornhub é um site muito mais vantajoso que as porcarias do X-Vídeo. Me viu comprimentar Brenda, já esperava o comentário babaca, ‘e aí, Manu, já tá comendo ali? Há, há!’, ainda que não gostasse de Brenda, detestava esse tipo de comentário, mas que direito eu tinha de desprezá-los. Sentia vergonha de mim mesmo, há duas semanas não batia uma, estava limpo, purificado, podia até olhar minhas mãos, caminhar e viver sem culpa. A pornografia já abandonara fazia tento, já não sentia mais tesão naquilo e até pensava como alguém podia se excitar com um vídeo porno.


Eu tinha problemas maiores, já estava farto daquela vida de merda, chegar todos os dias e encher as prateleiras de conservas, cafés, leite em pó, bolachas e outra infinidade de produtos que decorava a quantidade e datas de vencimentos, aquele emprego me roubava o tempo e, consequentemente, a o que me restava de vida, já não aguentava mais as histórias das velhas, como Dona Aurora, mas eram as únicas mulheres que tinham carinho por mim, que um vez ou outra me levavam um bolo de trigo, se interessavam em saber do sabor que me agrava para uma próxima vez, eram seres solitários como eu, a diferença é que eles pela velhice e eu pela estranheza do meu ser, que me impediam as relações. Não era de todo feio, com exceção das espinhas na cara, o corpo um pouco magro e o uniforme sempre sujo, dava para alguma coisa. Naquele dia me encontrava tão abatido que nem tive tempo para tagarela com a Frente-de-caixa, o setor mais legal do supermercado, de onde sai as maiores putarias, adorava empacotar e entre as idas e vindas dos clientes, ouvir as alegrias e tristezas do casamento com aquelas senhoras, e ficava atento a cada detalhe, a cada curiosidade, ‘mulher gosta é disso, Manu… tem que chupar bem chupado’. Eu escondia meu riso, completamente constrangido.


Lá vinha Seu Belmiro, Flamengo tinha vencido naquela rodada, o Flamengo ganha ele o véio faz sempre questão de passar no meu corredor. Já vi ele de papo com as meninas da Frente-de-caixa e dei o fora para o depósito. Separei o que tinha que subir, naquele sábado tava só eu na reposição, Jorge tava de atestado, ou seja, queria ser mandado embora, já fazia ora e deixava faltar arroz nas gôndolas, era do setor de cereais, o melhor de trabalhar, apesar de ser pesado você trabalha praticamente sentado. Jorge era o inimigo do trabalho, por ser preguiçoso, o cara sempre arrumava um jeito de facilitar a coisa e ria de quem fazia o menor esforço, ou seja, de mim, quando me via subir a rampa de carrinho cheio. Se tivesse que subir um pacote de arroz, o desgraçado punha na esteira. Mas era um gênio, um gênio da facilitação do trabalho, foi ele quem implantou o sistemas dos banquinhos, amaciados com fita adesiva e papelão, para não trabalhar agachado no chão. Depois, passou a deixar mensagens no banheiro, escrevia no forro branco da porta, ‘hoje caguei sem sujar o cu, estou tão feliz!’. Estava sempre de uniforme limpo, cabelo cortado e a plantar o ódio pela direção, coisa que não era muito difícil de fazer, ‘no supermercado tudo sobra para reposição, temos até que recolher os ratos mortos do depósito, isso é inaceitável, principalmente a gente ter que chegar uma hora antes para limpar corredor’.


Sentia falta do desgraçado aquele sábado, era minha dupla de fim de semana, quando a gente tava no turno de 12h às 21h20, eu até odiava menos o mundo. Com as idiotices dele, fazia graça o tempo todo, tá aí o principal motivo que mandaram ele embora, no supermercado é proibido sorrir (com exceção da Frente-de-caixa e Padaria), sentar, falar e viver, e dessas regras, Jorge só não tinha quebrado uma, porque era impossível para um funcionário de supermercado: viver. Desse modo fui obrigado a aceitar a companhia de Brenda, que estava praticamente sozinha na padaria, lanchamos juntos, descobri que estava no quarto semestre de Administração, na Atenas, Paracatu, ia e voltava de segunda à sexta. Me surpreendi, a julgava uma ignorante, uma garota completamente vazia, mas naquela tarde, me falou um pouco de si, que também tava cansada do trabalho, que essa coisa de estudar e trabalhar a chateava, mas não podia deixar o trabalho porque se não a grana não alcançava para pagar as mensalidades, e mudar para Paracatu não queria, tinha que fazer companhia para vó doente, parecia até apelação aquela história da vó doente, mas não duvidei. Disse que dormia por lá e ia em casa só pela manhã, também porque ficava mais perto do Ponto, descia na Praça Cyro Góes, e tarde da noite ficava perigoso para caminhar até em casa. Aquela conversa despropositada já passava de cinco minutos da hora de ponto, quando chegou Luciano, o gerente que tinha cara de bocó.

_ E aí, gente! Borá voltar para o serviço.

Canalhas, não esperava nem o pão descer pela garganta, ficavam de butuca observando as câmeras do setores, justamente porque não tinha trabalhado à fazer nos sábados. Também suspeitavam de qualquer aproximação entre garotos e garotas do supermercado, e, quando confirmada a relação, demitiram o cargo mais baixo, e como os repositores são as casta mais baixa do supermercado, sempre sobrava para gente, nada de relações afetivas entre os funcionários, era contra a "ética" da empresa.


Antes de deixar o refeitório, Brenda me fez um sinal:

_ Que vai fazer amanhã?

_ [Era domingo, lia por todo dia, quando muito, assistia um filme] Hum! Nada.

_ Vamos no Rio, se quiser vem com a gente.

_ Se quiser ou você quer que eu vá?

_ Eu quero que você vá, chego uns minutinhos para gente ficar a sós, 13h, sem falta!

Baixei as escadas disfarçando um sorriso, a verdade era que detestava esses compromissos, ainda que fossem raros em minha vida. O simples fato de ter que encontrar alguém em tal dia, tal horário, em tal lugar, me torturava terrivelmente, sempre imaginava um cancelamento de última hora ou uma tragédia que me impediria de chegar, coisas do tipo. Pelo menos esse era de um dia para o outro, só o resto do dia e a manhã do dia seguinte para me torturar.

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Não tomei café e naquele domingo também evitei ir à Feira, o que fazia religiosamente aos domingos, além de comer um pastel misto com garapa. Uma vez quase morri com isso, uma dor-de-barriga, que me prendeu por um dia no banheiro. Caguei até o cu arder. Evitei porque sabia que podia encontrar alguém por lá, que me convidasse a outra parte, coisa que nunca acontecia, mas… bom, estava ansioso e a manhã foi comprida.


No sábado, antes de bater o ponto, comprei umas coisas para levar, bolacha recheada, chocolate e salgadinho, nada demais. Enfiei tudo na mochila, precisava de camisinha, pensei que seria um ato muito sacana de minha parte, no fundo imagina transar com Brenda, coisa que não ia acontecer, mas se rolasse precisava estar prevenido. Nunca precisei comprar essa merda na vida, minha vida sexual não existia, e ir comprar uma camisinha tinha a mesma sensação, para mim, de ir comprar drogas. Falei com Rogerinho, um amigo mais chegado, dei para ele o dinheiro e expliquei a situação, Ele evitava rir para não me constranger, mas o desgraçado tava se cagando por dentro. Em 10 minutos, passou lá em casa para deixar,

_ Comprei dois pacotes, não sei se você é rápido [ria o desgraçado], cada pacote vem três, eu acho, depois me conta tudo.

_ Valeu! Pode deixar [estava agradecido realmente, não teria coragem para um ato dessa natureza].

Como eu era imaturo em assuntos dessa parte.

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Peguei minha mochila, desci para o Rio. Cheguei 20 minutos antes, é claro, era um dia lindo, ainda que tivesse muito lixo em volta e a margem do Paracatu estava quase toda coberta por uma vegetação espinhosa, deixando apenas uma pequena faixa de areia branca até a água, que escorria tranquila, como alguém que pega no sono; ele ainda tinha sua beleza. Raras vezes estive ali, me mantinha longe de àgua, por não saber nadar, e de compromissos por não saber viver em sociedade.


Observei o sol tocar a água, por um bom tempo, enquanto ouvia o som das araras. 13h04, nada de Brenda, prometi esperar até às 13h10. 13h10, nada de Brenda, disse que 13h15 era o horário limite, se não viesse até lá, me mandava dali. Não havia nada que odiasse mais que atrasos, ele me tira o prazer de qualquer atividade planejada. 13h13, lá vinha Brenda, com um sorrisinho sacana.

_ Já pensava em ir embora, né, te conheço!

[Não respondi, e ela não me conhecia]

Me comprimentou com um beijo na face e reclamou do calor, tinha a parte de cima do biquíni já posta e de baixo um short jeans que se desmanchava em fiapos de pano, estava desabotoado [não entendo essa mania das garotas de vestirem o short desabotoado]. Pensei que era uma dificuldade a menos naquele momento e não fiz mais questionamentos. Pôs suas coisas na areia, tirou o short e correu para a água me chamando. Arranquei a blusa e a acompanhei.

_ Não vai tirar a bermuda?

_ Não, estou apenas de cueca.

_ Que importa, tira logo!

Estava com a minha melhor cueca, ainda assim era difícil disfarçar a excitação, disse para não ir muito longe, que eu não sabia nadar, isso deu risa nela.

_ Bem, do jeito que vai o Paracatu, pode ficar despreocupado, capaz de atravessá-lo a pé.

[Era verdade].

_ Vem, esqueci de passar o protetor, passa em mim, por favor.

Brenda sentou-se na areia de costas para mim e desatou a parte de cima do biquíni, que mantinha presa ao corpo com as mãos, para facilitar que minhas mãos escorrerem por suas costas nuas. Sentia imenso prazer naquele ato, a acariciava suavemente, massageando o pescoço, depois baixava fazendo movimentos circulares cada vez mais próximos dos seios. Ela não reagia, apenas soltava pequenos grunhidos.

_ Na barriga agora - disse, estendendo o restante da toalha na areia para se deitar.

Espremi o protetor desenhando um “B” em sua barriga reta, não percebeu, admirava o baile das araras no céu, completamente desatenta ou fingia desatenção. Espalhei o produto, até desaparecer o esbranquiçado, brinquei com o piercing que tinha no umbigo, brilhava como uma moeda de 50 centavos, Ela sorriu, ‘faz cócegas'. Minha mão tentava tocar aqueles seios que se ofereciam diante de mim, minha mão passava cada vez mais perto, até que, enfim, toquei-os delicadamente. Os mamilos eram exatamente como imaginei, alaranjados, e os seios macios. Naquele momento, admirei a Natureza, de que uma obra tão perfeita só poderia ter sido criada por Deus, até tive fé naquele momento, me sentia o próprio Adão, com uma costela a mais, e o Paracatu, mesmo com todo agrotóxico que contaminava sua água turva, era parte do Éden.


Brenda ignorava meus movimentos, permanecia com o olhar fixo nas araras, não fazia nenhum movimento, como se estivesse morta na areia. Desci a mão, voltei a brincar com seu umbigo, alcei o pano úmido da calcinha, a mão entrava fácil, Ela facilitava ao afastar um pouco os joelho, agradeci, ela estava viva, senti a aspereza dos primeiros pêlos pubianos, devia ter se depilado fazia uns dois, três dias, crescem 1 milímetro a cada três dias, o suficiente para dar esse efeito. Com o indicador e o dedo médio, abri os grandes lábios, estavam cerrados, como uma concha, e senti aquele melado gostoso, como se enfiasse o dedo em uma maionese de almoço de domingo, pensei que essa comparação era ridícula e voltei a me concentrar. Lubrifiquei a bucetinha pequena, com o próprio líquido que ela produzia e passei a fazer movimentos leves e circulares no clítoris, e, o mais importante, alternados. Felizmente, meses atrás, me dediquei a leitura de um livro de sexo chinês, um mapa da vagina, davam detalhes e instruções preciosas, até se a mulher fingia ou não o orgasmo. E também contava com as dicas das Frentes-de-caixa, que faziam parte do conhecimento “prático”.


Me estirei do lado de Brenda na areia. Senti o atrito da areia entre nossos corpos, estávamos debaixo da sombra de um baruzeiro enorme.

_ Por que parou? - perguntou Brenda, com uma voz mansa.

_ Vem um carro aí!

Ainda dei um jeito de beijá-la, atirei meu corpo por cima do dela, senti sua língua dobrar-se dentro da minha boca, ainda que tivesse prazer, Brenda beijava-me com frieza. Sentia vontade de chupar seus seios, mas não havia tempo suficiente, abandonei a ideia..O beijo durou poucos segundos, me afastei quando senti a resistência de seu corpo, que há pouco se remexia com tesão na areia.

_ São os garotos!

_ Que garotos? - perguntei.

Já era tarde, os três babacas e uma outra menina, desciam de um Gol quadrado, que se arrastava a poucos centímetros do chão, se tremendo com uma música, “música”, que era basicamente um som grave e a voz de uma criança de 12 anos se esgoelando, parecia sofrer de um ataque.

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Logo os caras me ofereceram bebida, o comportamento de Brenda mudara completamente, senti vontade de ir embora, mas precisava esperar um tempo para anunciar minha saída:

_ Não bebo, - respondia.

_ Então dá um trago, disse um dos carinhas me estendendo um palheiro aceso [acho que fumava bosta de cavalo, do tanto que fedia e por sua mente não proferia uma ideia útil].

_ Não fumo.

_ O que você faz então?

_ Bate punheta! - respondeu o segundo carinha, provocando uma gargalhada na galera, Brenda também ria.

Todos correram para água, fazia uns 38º graus pelo menos. Fiquei na areia, me chamavam, não fui. Até que os carinhas saíram da água para me pegar, detestava esse tipo de brincadeira. Eram uns babacas! Brenda disse:

_ Cuidado com ele, não sabe nadar!

_ Ah! Não sabe nadar, então vamos levar ele para uma aventura - disse o terceiro carinha, o mais ridículo de todos, tinha o corpo coberto de tatuagens e o físico de um usuário de craque [não que eu tivesse estereótipos, já conheci muito moleque gente boa desse perfil].

Me arrastaram para o fundo, os três. Me controlava, sem pronunciar uma palavra, Brenda os repreendia, sorrindo [a risada dela me fazia odiá-la ainda mais]. Sentia medo, meu silêncio derivava da minha covardia, do meu desespero, estava congelado por dentro, disse que não gostava desse tipo de brincadeira, já estávamos afastados da margem.

_ Agora vamos soltar ele aqui - falavam entre si.

_ Não, não, por favor! - implorava, com raiva, porque meus olhos já lacrimejavam, tinha o choro preso na garganta, me odiava por ser um tão fraco e covarde, qualquer situação já me leva às lágrimas.

No desespero me agarrei ao pescoço de um dos caras, ‘cuidado se não vamos nos afogar´, e ria, ria… Quando sentia que me soltavam, começava a me debater, me debatia com um humano dentro d'água, um humano que não sabe nadar, essa era a comparação mais precisa.

_ Podem parar meninos - repreendeu a outra vadia que estava com eles.

Me afogaram. Prendiam-me debaixo d'água por alguns segundos. Ainda que fossem poucos os segundos, por meu desespero, era o suficiente para engolir água. Na última vez, um dos caras prendeu minha cabeça entre os joelhos, sentia suas pernas pressionarem minha cabeça, machucando-me as orelhas. Pensei que ia morrer. A sensação do afogamento é certamente pior que a morte, porque na morte não existe dor, não existe desespero, só se estar morto, o desespero é saber que se vai morrer, assim, é claramente possível morrer-se antes da morte. E eu já estava morto faz tempo.

Estava consumido pelo desespero. Em um de meus movimentos, dei uma cotovelada no nariz de um dos caras, ‘desgraçado, vamos quebrar esse moleque no pau!’.

_ Tenho uma ideia melhor - disse o carinha tatuado, - borá levar ele de volta para a areia.

Um me prendia os braços para trás, os outros dois prendiam-me as pernas [já tinha colocado o short], minha resistência era inútil e fazia-me doer o braço, pois me agarravam mais forte.

_ E agora? - Perguntaram ao carinha tatuado.

_ Vamos tirar a roupa dele, há, há!

Juro que preferiam que tivessem dito, vamos afogá-lo novamente. A nudez sempre me apavorou, talvez porque meu pênis mole fosse do tamanho de um pênis de uma criança de cinco anos. Os carinhas afastavam minhas pernas para arrancar a bermuda, Brenda e a vadiazinha se aproximaram com curiosidade e sorrindo. Enfim, conseguiram e pediram a vadia para abaixar a cueca. Meu pau estava pregado à pele, encolhido, como um ser que se defende, completamente inerte, tinha a forma e tamanho de um dedo mindinho enrolado, se cagavam de rir. A vadiazinha ainda deu um tapinha para descolá-lo.

_ Puta-que-pariu! Com uma merda dessa eu também me mataria - disse um do grupo.

[Na verdade, excitado, eu estava dentro da média, de 10 a 12 centímetros, nunca tive coragem de medir para tirar a dúvida, contando que a vagina da mulher tem oito centímetros de profundidade, eram o suficiente] Eu estava aterrorizado, já não oferecia mais nenhuma resistência. Tentavam fazer-me endurecer o pau, pedindo à vazinha que me masturbasse. Eu sentia tanto ódio, que bloquearam meus instintos sexuais. O ódio é maior que o desejo. Me largaram. Permaneci um tempo estirado na areia, imóvel, chorava tanto quanto no dia que sai do útero, aquele choro já previa a desgraça da minha vida. Brenda quis me tocar, a empurrei com força na areia e sai enfurecido [desejava socá-la até ver aquela cara cínica sangrar], desorientado, não sabia ao certo o caminho de volta. O resto havia voltado para água, riam à distância.

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Não voltei mais ao trabalho. No primeiro dia ligaram do supermercado, em um ano de trabalho, nunca havia faltado um dia se quer, nem um atraso, tinha até umas horas acomuladas para emergências, nunca tinha pegado atestado. Meu pai inventou uma doença, disse que não podia mais voltar ao trabalho. Mas insistiam que eu tinha de ir ao supermercado, que necessitavam que eu assinasse alguns papéis, que lamentavam, Manu era um excelente funcionário, dedicado, que ‘vestia a camisa da empresa' [como eu odiava essa expressão], mas agora, ‘deixavam Eles na mão, justo Eles que lhe deram a oportunidade do trabalho, tão escasso naquele tempo, que haviam um montão de garotos que implorariam pela oportunidade que Manu recebera de bom grado’. Em pouco tempo, me substituiriam e nem mais lembrariam da minha existência, não precisa de muita inteligência para enfiar produtos em uma prateleira, ainda que me julgue melhor nisso.


Meu pai já se preocupava comigo, já estava há um mês sem sair daquele quarto, mal comia.

_ Você tem que dizer, meu filho, [acariciava meu cabelo, suado pelo travesseiro, com afeto], se não não tenho como te ajudar [se sentia culpado, como sofrem os pais por nossa não-felicidade].

Brenda já havia ido na minha casa me procurar várias vezes, na primeira semana com mais frequência, me recusava a vê-la, disse ao meu pai que se abrisse a porta para Ela ou qualquer outro não o perdoaria.


Eu tinha arranhões pelo corpo e a glande do meu pênis estava irritada, pois esfregaram areia ali, sentia dor ao urinar, era como se mijasse esse chá quente com pimenta, queimava, uma desgraça. Mas o que mais doía era a alma. Me lembrei que, antes, eu era até um cara alegre, nunca fiz mal a ninguém, conservava boas amizades pelo futebol, mas agora, tudo mudou, estava na merda há um mês, ou estive há vida inteira e não percebi, minhas tristezas eram momentâneas, quando muito, duravam uma semana. Planejei matar cada um deles, apenas isso me libertaria, primeiro os caras, depois a vadia e por último Brenda. Tudo bobagem, não podia matá-los, nem se eu dispose de modos. Então, decidi matar-me, o suicidio era a única forma de puni-los.


Decidi por um sábado, detestaria ter que morrer em meio de semana e atrapalhar a rotina de todos, deixaria uma carta ao meu pai, o agradeceria e o livraria da “culpa”, a culpa era do mundo, pai. Sai lá pelas sete da noite, rumo à Ponte, já era de completo escuro, me despedi de meu pai com um beijo na face, ele não fez objeções, nem perguntou para onde ia.

_ Cuidado, meu filho! - disse com sua voz rouca.

Caminhei uma longa distância até lá, no fundo desejava encontrar alguém pelo caminho que desviasse-me de meu objetivo. Não aconteceu, a 181 estava deserta, com em uma tarde de domingo, o asfalto esfriava com a lua.

Já chegava à Ponte, passavam poucos carros, de faróis baixo, eu ia convicto, chego e me atiro de uma vez, sem tortura. A carta não escrevi, apenas um bilhete curto ao meu pai, sem citar Brenda e sem fazer menção ao ocorrido: Vou matar-me, não suporto mais viver, nunca se culpe por isso, te amo.

Meu corpo todo tinha uma espécie de dormência, já não sentia o peso do corpo sobre os pés, era uma como se flutuasse, o beiral da Ponte não oferecia resistência, as águas do Paracatu eram ainda mais calmas, me esperavam cerimoniosas, dessa vez para me levar de vez, uma parte de meu corpo alimentaria as piranhas, seria minha contribuição ao ecossistema além das conservas nas prateleiras. A mochila ia comigo, sentia-a parte de mim, estava pregada as costas. Pus as mãos no beiral da ponte, que dava para baixo da minha cintura, olhei o Rio e não tive coragem, tinha náuseas, sentia vontade de vomitar, pensei que tudo aquilo era uma bobagem, me culpei por que ia fazer meu pai sofrer, um filho suicidado, haveria coisa pior para um pai!?

Decido voltar…

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LUIZ chega na fila do ponto. Era domingo bem cedo, turno dos infernos.

_ Ficaram sabendo?

_ O quê?

_ Manu morreu!

[Luiz pensou que, assim, não teria que pagar o sábado que devia ao amigo – e sentiu culpa por esse pensamento – ao mesmo tempo que estava aliviado].

_ Ah! - vozes assustadas.

_ Voltava a pé, tarde da noite, sentido à cidade, provavelmente foi até à ponte. Ali não tinha acostamento, Manu caminhava sobre o meio-fio, perdeu o equilíbrio e vrauuu… uma carreta o esmagou, o pai está arrasado coitado, pensam que foi suicídio.


BRENDA desmaia atrás, antes de bater o ponto.


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FIM.


Autor:Gustavo Rubim.


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